Substituições
Daniela Thomas
Daniela Thomas
Flana-se pela casa da Eva. Passa-se os olhos pelos objetos, pinturas, vitrines. Nos entretemos com as escolhas, com os cenários "à moda de": sala inglesa, renascença, chinesa. Há uma força magnética na casa, talvez centrífuga, nos empurrando todo o tempo em direção ao próximo quadro, objeto, ambiente. Não nos detemos. O próprio excesso e variedade de coisas nos movimenta para adiante. E mais adiante.
Meu impulso foi deter esse movimento. E se tivéssemos de dar conta de cada obra? Se tivéssemos que realmente parar e focar e submergir na obra? Propus a várias pessoas, entre artistas, jornalistas, cientistas, escritores, crianças, trabalhadores da própria fundação que tentassem DAR CONTA de um objeto que eu iria retirar da exposição e SUBSTITUIR com essa descrição gravada.
Imaginei questões que o projeto poderia suscitar:
1. um distúrbio à visita, já que as salas estarão obviamente "banguelas", com vazios preenchidos apenas pela pequena e desinteressante caixa de som, provocando uma interrupção no movimento centrífugo natural do visitante.
2. um distúrbio auditivo, já que a casa estará povoada de vozes todo o tempo.
3. um desafio à imaginação do visitante que se vê obrigado a projetar à partir da descrição que ouve, o objeto faltante.
4. um desafio à imaginação do "descrevedor".
Nessa última e central questão, o mais interessante desafio: como SUBSTITUIR, como DAR CONTA com palavras, da totalidade de uma obra de arte? Tarefa hercúlea e fadada ao fracasso, mas que provoca uma sorte de escolhas que evocam a própria história do pensamento em sua imensidão e fragilidade. Ficamos aí também à mercê dos excessos: descrever exaustivamente ultrapassa a obra? quando parar? O quanto de subjetividade é permitido? E desejável?
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