A Moreninha: os anos 80 além da pintura
APRESENTAÇÃO
O crescente interesse em recuperar documentos e produzir narrativas históricas acerca da arte brasileira dos anos 80 conduziu as atividades do Laboratório de História, Crítica e Teoria da Arte II, do Instituto de Artes / Uerj, na direção da produção de um resgate histórico da atuação do grupo A Moreninha, ocorrida entre 1986 e 1988. Foram realizadas entrevistas e levantamento de fotografias, vídeos, reportagens e outros documentos da época.
Um dos pontos principais desta primeira fase do projeto – iniciado no primeiro semestre e com desenvolvimento previsto por todo o ano de 2011 – foi uma série de entrevistas com os que atuaram no grupo. Assim, a partir das memórias de alguns dos participantes, busca-se costurar o tecido que compõe a trajetória de A Moreninha pelo circuito de arte do Rio de Janeiro.
A mesa-redonda “A Moreninha: os anos 80 além da pintura” encerra esta primeira fase do projeto, trazendo para uma conversa pública o artista Hilton Berredo e o crítico de arte Marcio Doctors, com mediação e coordenação de Ricardo Basbaum – participantes do grupo A Moreninha.
A MORENINHA
A Moreninha foi um grupo de artistas e críticos que, de forma irreverente e descontraída, participou do cenário artístico do Rio de Janeiro dos anos 80. O início de sua atuação se deu no fim de 1986, quando jovens artistas se organizaram para visitarem os ateliês uns dos outros. No período, vivia-se sob a efervescência da chamada “Geração 80”, marcada pela vaga idéia do “prazer de pintar” – clichê que revelou-se limitado como modo de compreensão da produção artística daquele momento, marcada também pela atuação multimídia e experimental por parte de alguns jovens artistas.
Em fevereiro de 1987, num desdobramento da fase inicial das visitações, o grupo se organizou para um piquenique na Ilha de Paquetá, onde fariam pinturas impressionistas sob o pretexto da comemoração do centenário de uma suposta passagem de Manet pelo Rio de Janeiro. Ainda naquele mês, o grupo voltou a se manifestar em uma ação durante a palestra proferida pelo critico de arte italiano Achille Bonito Oliva na galeria Saramenha, gerando polêmica e grande repercussão na imprensa. Meses depois, ocorreu ainda a exposição “Lapada Show”, seguida, em dezembro do mesmo ano, pelo lançamento do livro e do vídeo “Orelha”. Já em março de 1988, a participação na exposição "Le Déjeuner sur l'art: Manet no Brasil", na EAV do Parque Lage, marcou o encerramento das atividades do grupo.
A atuação do grupo “A Moreninha” nos abre outra perspectiva sobre o rumo da arte dos anos 80 no Brasil. Começando com uma atividade relacionada à pintura, o grupo questionou o rótulo hedonista que marcava a geração 80, decretando o seu fim, a partir da retomada da prática discursiva e da busca de um pensamento crítico acerca de sua própria produção e do circuito de arte local.
CRONOGRAMA BÁSICO DAS ATIVIDADES DO GRUPO
- Fim de 1986: início das visitações semanais aos ateliês dos artistas do grupo para discussão de trabalhos;
- Janeiro de 1987: visita ao Projeto Hélio Oiticica, conduzida por Luciano Figueiredo;
- Fevereiro 1987: realização da primeira ação: Maratona Impressionista na Ilha de Paquetá;
- Fevereiro 1987: realização da segunda ação: Intervenção na palestra de Achille Bonito Oliva, Galeria Saramenha;
- Junho 1987: exposição “Lapada Show” (loja Brumado, Rua do Lavradio, Lapa), com os artistas do grupo e a presença dos convidados Lygia Pape, Márcia X e Alex Hamburger;
- Dezembro 1987: lançamento do livro e do vídeo Orelha, na Petite Galerie, Ipanema;
- Março de1988: Participação na exposição "Le Déjeuner sur l'art: Manet no Brasil", na EAV Parque Lage, com curadoria de Frederico Morais;